Oz high tech

O Mágico de Oz é apenas um pretexto para Sam Raimi iniciar uma nova franquia de aventura juvenil com Oz - Mágico e Poderoso


Clássico de 1939, o musical O Mágico de Oz é tão poderoso no inconsciente popular que seu material original, o livro homônimo L. Frank Baum, mantém-se ofuscado diante de tamanha devoção dos fãs da história ao filme. O Mágico de Oz imortalizou Judy Garland como a doce Dorothy que, após ser capturada por um tornado no Kansas, onde vive com seus tios, é levada para o fantástico mundo de Oz, uma terra governada por um grande feiticeiro e cuja paz é constantemente ameaçada pelas ações das irmãs Evanora, apelidada de Bruxa Má do Leste, e Theodora, conhecida como a Bruxa Má do Oeste. Ao longo da jornada, Dorothy conhece um espantalho, um leão e um homem de lata, que anseiam ter um cérebro, coragem e um coração, respectivamente. Para isso, resolvem ir até a cidade das esmeraldas e fazer o pedido ao grande feiticeiro de Oz, que também é o único capaz de levar Dorothy de volta para casa.

Há anos que os estúdios almejam uma revisitada em Oz e, seguindo a atual tendência de Hollywood de reviver a época de ouro e os contos infantis somadas à onda dos prequels, Oz volta para os cinemas pelas mãos de Sam Raimi em Oz - Mágico e Poderoso. Para quem não sabe, Raimi foi responsável por revitalizar as adaptações de HQs nos cinemas no início dos anos 2000 com a bem-sucedida (e insuperável, que me perdoe Andrew Garfield e sua versão cafajeste do spidey) franquia Homem-Aranha, protagonizada por Tobey Maguire. O comando de Oz - Mágico e Poderoso ficou com a Disney, que logo tratou de contratar o diretor de arte de Alice no País das Maravilhas, longa de Tim Burton também do estúdio, Robert Stromberg, vencedor do Oscar por este trabalho e também pelos cenários de Avatar.

A ideia de Oz - Mágico e Poderoso é contar como o mágico charlatão Oscar foi parar em Oz e se tornou o líder daquele reino dominado por feiticeiras, macacos voadores e anões cantantes. Além disso, o projeto tinha como missão mostrar como a Bruxa Má do Oeste se transformou na figura horrenda, e verde, que vemos em O Mágico de Oz, e qual era o cerne das disputas entre ela, sua irmã Evanora e a Bruxa Boa do Sul, Glinda. A proposta pode parecer um tanto quanto questionável se pararmos para pensar que em O Mágico de Oz o grande barato era a dúvida que permanecia sobre a veracidade ou não daquele universo. Poderia soar como se Raimi e a equipe de Oz - Mágico e Poderoso tivesse passado uma borracha em todo o clássico de Victor Fleming. Mas, apesar de não definir isso em seu desfecho, Raimi e seus roteiristas não negam as interrogações de Fleming e  L. Frank Baum, sendo perfeitamente plausível que, assim como Dorothy 1) Oscar tenha caído em Oz como uma fuga para sua realidade ou; 2) tenha de fato sido levado por um tornado para uma terra mágica.

Resolvida essa peleja, vamos aos demais aspectos desse prequel. Tecnicamente e visualmente, o filme é um deleite e não deixa de ser admirável a decisão de Raimi de homenagear o clássico com a utilização do preto e branco e da razão de aspecto menor no Kansas e as cores e a expansão da imagem na tela quando o protagonista chega em Oz. Os primeiros trinta minutos de Oz -Mágico e Poderoso são imbatíveis, um verdadeiro sonho realizado ver um universo que povoou a imaginação de tantos cinéfilos com as possibilidades que a tecnologia atual proporcionam para o cinema. No entanto, todo esse encantamento cai por terra em virtude dos graves problemas narrativos do longa. O roteiro não se aprofunda no conflito de seus personagens e não consegue criar motes interessantes para os mesmos. Assim, a revisão do universo fica apenas na estética do filme e na concretização visual de episódios que já conhecíamos em O Mágico de Oz, para ser mais claro, as picuinhas entre Evanora, Theodora e Glinda.

James Franco até que se esforça como Oz, mas não consegue sair do tom burocrático e mecânico. Assim, a grande atração acaba sendo mesmo suas colegas de cena, Rachel Weisz, que se diverte com o estereótipo da vilã de contos infantis, e Michelle Williams, que consegue superar as dificuldades, pouco levantadas, de se interpretar uma personagem genuinamente boa como Glinda. Entre as duas está a mais irregular do trio, Mila Kunis, que não compromete de forma alguma o projeto, mas está anos luz de ser comparada à  eterna Margaret Hamilton, que transformou a Bruxa Má do Oeste em uma das maiores vilãs do cinema.

Não deixa de ser lamentável que um filme como Oz - Mágico e Poderoso não saia do "feijão com arroz" dos blockbusters atuais, tendo a frente um diretor que fez história assinando o comando de filmes tão fortes em suas respectivas assinaturas como The Evil Dead, Arraste-me para o Inferno e toda a primeira trilogia Homem-Aranha. Oz - Mágico e Poderoso é uma evidente reverência a O Mágico de Oz, mas não deixa de levantar suspeitas sobre o oportunismo de seus realizadores, uma vez que não consegue proporcionar uma brecha sequer de originalidade. Pior, por vezes banaliza um universo que jamais deveria ser banalizado. Como realização, tem suas qualidades, não são poucas. No entanto frusta quem tem a convicção de que Sam Raimi deveria e poderia ter ido um pouco além do arco-íris.



Oz: The Great and Powerful, 2012. Dir.: Sam Raimi. Roteiro: David Lindsay-Abaire e Mitchell Kapner. Elenco: James Franco, Mila Kunis, Rachel Weisz, Michelle Williams, Zach Braff, Bill Cobbs, Joey King, Tony Kox, Abigail Spencer, Bruce Campbell, Stephen R. Hart. 130 min. Buena Vista. 

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Chovendo Sapos: Oz high tech
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