Walt nos bastidores de Mary Poppins é o tipo de filme com personagens e eventos reais que nos faz questionar se as coisas aconteceram realmente da forma como são mostradas na tela. Algumas situações de fato aconteceram, como as gravações das reuniões de Travers com a equipe de Mary Poppins nos estúdios Disney, mas outras passagens são muito romantizadas. De qualquer sorte, ainda que o filme apele aqui e ali para o melodrama, não há dúvidas de que é um projeto extremamente sedutor, sobretudo para quem é apaixonado por Mary Poppins, pelo cinema e pela ficção como forma de lidar com a realidade. Emma Thompson nos oferece um desempenho delicioso como P.L. Travers, autora de Mary Poppins que relutou durante anos em entregar a Walt Disney os direitos de adaptação para o cinema do seu romance. Só aceitou sob suas condições: participar do processo de criação do filme junto com os seus roteiristas e compositores, dando palpites em cada um dos detalhes da trama, desde as cores usadas no cenário até a escalação dos atores. O filme aborda as tensões da criação em processos de convergências de linguagens, mas o centro da narrativa torna-se essa mulher de sobrenome Travers, uma incógnita que nem mesmo esse longa de John Lee Hancock consegue ser suficiente para decifrar. Thompson, por sua vez, faz a sua parte ao dar substância e camadas a essa personagem sem transformá-la em uma megera disposta a aniquilar os sonhos de Disney, um trabalho primoroso da atriz que faz o satisfatório desempenho de Tom Hanks como o criador do Mickey Mouse ficar menor na tela.
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