(Crítica) Sensível e dramático, 'A Luz entre Oceanos' investe no clássico


Depois de dois filmes densos regidos por assuntos espinhosos como Namorados para Sempre e O Lugar onde Tudo Termina, o diretor norte-americano Derek Cianfrance retorna aos cinemas com outro filme carregado pelo conflito humano, mas sobretudo pelas emoções fortes. O longa em questão é A Luz entre Oceanos, adaptação roteirizada e dirigida pelo realizador, baseada no romance de M. L. Stedman. Apesar da grande expectativa, o filme não rendeu o retorno esperado ao diretor, que colheu reações mistas na última edição do Festival de Veneza, onde o longa fora exibido pela primeira vez, e viu ameaçada suas expectativas de enfim consagrar-se na grande temporada de prêmios do cinema nos EUA.

É uma pena que o filme tivera uma recepção pouco entusiasmada pois apesar de não ser tão provocador ou singular quanto as obras anteriores de Cianfrance A Luz entre Oceanos encontra refúgio nas emoções sinceras de um drama nos moldes clássicos do gênero. O longa envolve o espectador pelo coração sem apresentar o menor vestígio da presença do trabalho de um cineasta desesperado em arrancar as lágrimas do seu público, que, por sinal, escorre no rosto do espectador da maneira mais natural possível. Eis o grande mérito do mais recente trabalho de Cianfrance. 

Em A Luz entre Oceanos, Michael Fassbender (Steve Jobs) vive Tom Sherbourne, um ex-combatente da Primeira Guerra Mundial que parte para a Austrália a fim de trabalhar como o guardião de um farol. Chegando lá ele conhece a jovem Isabel, papel de Alicia Vikander (vencedora do Oscar por A Garota Dinamarquesa), por quem acaba se apaixonando, se casando e com quem tem o seu primeiro filho. Isolados do mundo na ilha que abriga o farol, Tom e Isabel têm que conviver com o fantasma de dois abortos sofridos abruptamente e que tiram as expectativas do casal de constituir uma família com filhos. Um dia, os dois são surpreendidos por um barco que chega ao local e que traz consigo um bebê ao lado do corpo de um homem. Tom e Isabel resolvem cuidar da criança como sua, omitindo o acontecimento de conhecidos e familiares até que um inesperado encontro ameaça a felicidade do casal mantida sob esta decisão eticamente questionável. 

Apostando numa costura gradual de relações, sejam aquelas estabelecidas entre as personagens ou entre estas e o público, A Luz entre Oceanos aposta na elegância do olhar de Cianfrance para o seu "dramalhão". O diretor não sobe o tom do seu filme mesmo nos momentos de maior investimento emocional, ou seja, o grande acerto é evitar a manipulação. Assim, a condução dos seus atores é econômica, ainda que emotivamente engajada. Nesse mesmo sentido, a trilha sonora de Alexandre Desplat não é invasiva, ainda que guarde notas que conseguem acessar em cheio nossa sensibilidade. Marcado pela fotografia de Adam Arkapaw (o mesmo de Macbeth: Ambição e Guerra), A Luz entre Oceanos ainda explora a delicada beleza das suas paisagens naturais e os detalhes da presença da luz em cena, que confere toda uma simbologia especial ao filme através de uma história que alterna entre a felicidade (calor) e a melancolia (frio). 

Cianfrance investe seus esforços em um roteiro certeiro que é eficiente nas suas diversas frentes. Primeiro na construção da empatia pelo casal Tom e Isabel já que, de cara, o público se envolve com a história de ambos, graças em parte, claro, aos esforços de Michael Fassbender e Alicia Vikander. O roteiro de Cianfrance segue interessante ao inserir os protagonistas em uma situação delicada que nos faz alternar entre a aderência ao seu drama e a situação da mãe biológica da criança encontrada pelo casal principal, interpretada com dignidade e sobriedade por Rachel Weisz (A Juventude), ainda que a mesma não receba o mesmo olhar terno do seu cineasta. Por fim, ainda que apresente um certo desgaste no terceiro ato, A Luz entre Oceanos consegue encontrar uma solução satisfatória para o impasse que traz ao público e aos seus personagens, oferecendo um desfecho humano e edificante. 

Mesmo que não promova nenhum salto na carreira de Derek Cianfrance, a história de A Luz entre Oceanos é benefíciada pela presença do realizador no seu comando. Certamente, em mãos menos habilidosas, o longa apelaria para o "dramalhão mexicano", afinal, a premissa da sua história sugere isso com suas passagens mediadas pelas decisões extremas e emocionalmente infladas das suas personagens. O longa acaba conseguindo equilibrar seus sentimentos e oferta ao espectador uma trama plasticamente rica e que o envolve pela afetividade, mas também pelas discussões que incita.  


The Light Between Oceans, 2016. Dir.: Derek Cianfrance. Roteiro: Derek Cianfrance. Elenco: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz, Florence Clery, Jack Thompson, Thomas Unger, Jane Menelaus, Garry McDonald, Anthony Hayes, Benedict Hardie, Emily Barclay. Paris Filmes, 133 min. 

Assista ao trailer do filme: 

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Chovendo Sapos: (Crítica) Sensível e dramático, 'A Luz entre Oceanos' investe no clássico
(Crítica) Sensível e dramático, 'A Luz entre Oceanos' investe no clássico
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