Títulos recentes da Netflix



Sete Minutos depois da Meia-Noite

Não há alívios para o espectador em Sete Minutos depois da Meia-Noite. Mesmo quando a mais recente empreitada do diretor J.A. Bayona (de O Impossível, O Orfanato e da futura sequência de Jurassic World) deseja ser terna, ela é implacável e realista sobre um episódio de dor extrema na infância. O longa baseado no romance de Patrick Ness (que também roteiriza o filme) traz a história de um garoto visitado constantemente por um monstro às zero horas e sete minutos. A intenção da criatura é ajudar o menino a suportar o avanço da doença da sua mãe e entender porque muitas vezes a vida é tão dura conosco. Nesse conto de fantasia com lições morais, o jovem protagonista interpretado com sensibilidade pelo garoto Lewis McDougall aprende como a natureza humana é complexa  e que, em momentos extremos, muitas vezes, somos tomados por demônios que precisam ser liberados de alguma forma. Sem suavizar sua história e facilitar a vida do seu protagonista, Bayona encontra um equilíbrio interessante entre o reforço do drama dos seus personagens e uma atmosfera sombria, algo que beneficia e muito a sua mensagem. 




O Experimento de Milgram

Polêmico até os dias atuais pelos resultados da sua pesquisa e por seus métodos, Stephen Milgram revolucionou os estudos da psicologia social ao tentar encontrar respostas para a obediência coletiva nas relações sociais. Inspirado pelo evento que antecedeu sua investida acadêmica, a Segunda Guerra Mundial, Milgram tentou demonstrar como há situações nas quais autoridades são obedecidas mesmo que tais ordens contradigam desejos pessoais. O filme de Michael Almereyda (também roteirizado pelo próprio) tem o mérito de levar a público a trajetória intelectual de Milgram. Ainda que traga informações sobre a vida pessoal do biografado, o filme prefere adotar um certo afastamento emocional e se concentra na pesquisa de Milgram. Por um lado, tal decisão é bem-vinda pois Almereyda encontra formas criativas de tornar interessante o percurso exploratório de Milgram em sua questão de pesquisa, como o uso de projeções no lugar de cenários ou a quebra da quarta parede com o excelente Peter Sarsgaard sempre se dirigindo à câmera e, consequentemente, ao espectador. Contudo, a relação do protagonista com sua esposa interpretada por Winona Ryder é deixada para segundo plano, o que torna sua presença uma incógnita no filme, afinal, algumas questões desse relacionamento estão lá, mas jamais são exploradas a contento.  Assim, O Experimento de Milgram mostra-se didaticamente exemplar, porém dramaticamente vacilante. 




Pastoral Americana

Adaptar uma obra do escritor Philip Roth é tarefa ingrata. Como acontece com o trabalho de qualquer autor cultuado que vai para as telas, Pastoral Americana convive com esse comparativo. Qualquer cineasta que se aventura em uma empreitada como essa sempre terá que lidar com as injustas comparações com o material de origem. Estando ciente que nenhum realizador cinematográfico conseguirá conferir a fidelidade precisa à escrita do autor, o debut de Ewan McGregor como diretor poderia ter sido visto com olhos mais compreensivos quando estreou no Festival de Toronto ano passado. No longa, McGregor dá vida a um ex-atleta sueco que possui todos os predicados para construir uma vida perfeita nos moldes americanos. Ele se casa com a ex-miss New Jersey, se muda para o interior do país, tem um negócio estável... O casal, no entanto, tem uma linda filha chamada Merry, que acaba representando a derrocada de todo esse sonho americano. Desde que viera ao mundo, Merry não era "perfeita", sofria de gagueira e na adolescência vivida nos anos de 1970 em plena guerra do Vietnã passa a nutrir ideais muito fortes e discrepantes do protótipo de vida ambicionado por seus pais. No seu conto sobre a derrocada do sonho americano, Pastoral Americana é implacável em todas as suas frentes e com todos os seus personagens, todos eles desconstruídos em suas crenças e ideais aos olhos do público. A adaptação de McGregor perde um certo vigor entre  o final do seu segundo ato e início do terceiro, mas não deixa de ser notável o desempenho dele como diretor, sublinhando a crítica social do trabalho-fonte sem torná-lo panfletário e excessivamente didático. 




Catfight

A tal da rivalidade feminina parece ter sido uma constante em 2017. Na TV tivemos Feud: Bette e Joan e Big Little Lies, no cinema aquele catastrófico e esquecível Paixão Obsessiva com Rosario Dawson e Katherine Heigl no elenco. Catfight explora com ironia essa temática em um filme de pretensões modestas, mas com um tratamento curioso ao optar pelo humor como chave de condução e por ter atrizes do calibre de Sandra Oh e Anne Heche, que nem sempre recebem as oportunidades que merecem na indústria. Oh e Heche interpretam duas colegas de escola que se detestam e que a partir de uma briga violenta têm suas vidas transformadas drasticamente. O filme de Onur Tukel tem uma mistura interessante de fantasia, humor negro e drama social que pode soar estranha e incomoda para muitos, afinal é, sem o menor vestígio de dúvidas, completamente "fora da casinha". As cenas de agressão entre Oh e Heche são inteiramente absurdas e bem inquietantes por seu flerte sem concessões com a violência. A partir de certo ponto da história fica claro para o espectador que com todo aquele show de excentricidade Tukel quer lançar um holofote para a imaturidade de uma rivalidade que não tem fundamento pois suas duas protagonistas parecem feitas do mesmo "barro". O público ainda vai se deliciar com uma ótima participação de Alicia Silverstone como a namorada da personagem de Heche. 

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Chovendo Sapos: Títulos recentes da Netflix
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